Nome: Eliane Silva de Aguiar
Cidade: Belo Horizonte/MG
Sua História:
Nascida no norte minas.Meu pai era peão de boiadeiro e sempre viajava com boiadas e ficava meses longe da família. Minha mãe ficava em casa cuidando dos 7 filhos. Morávamos na fazenda do patrão do meu pai. Eu e minha irmã mais velha andávamos metros, saiamos as 4 horas da madrugada de casa pra chegarmos no local onde poderíamos encontrar a professora que o patrão do meu pai contratava pra nos ensinar a ler e escrever. Todos os dias era a mesma coisa. O sonho de crescer na vida sempre estava sempre presente. Aos 10 anos fomos obrigados a mudar pra cidadezinha chamada Frei Inocêncio, onde concluí meus estudos até a oitava série. Passei fome, quando chovia o rio enchia. E a enchente jogava a casa no chão. A chuva passava, o rio voltava ao nível normal e à gente também voltava pro nosso terreno, pois tínhamos que morar embaixo da lona, até que conseguir o material da prefeitura para levantar o barraco, mesmo com tudo isso, eu era feliz. Quando fiz treze anos minha mãe teve que nos deixar no interior em busca de emprego pois não aguentava mais ver os filhos passando fome. Ela veio pra Belo Horizonte. Ficamos sem pais neste período. Eu e minha irmã ficamos responsáveis pelo nossos irmãos. Então eu tive que trabalhar, picava toucinho e fritava para um vendeiro,que me pagava com um caderno pequeno, dois lápis e um pacote de bolacha. E lavava vasilhas no rio para os vizinhos que dava o macarrão e folhas de verduras. Foi assim até completar a oitava série.
No dia da formatura e na missa, foi o meu tio que foi o nosso padrinho e nos buscou para ficar junto com nossa mãezinha na cidade grande. Foi bacana demais, pois viemos de trem. Nem trocamos o uniforme viemos da igreja mesmo. A cidade grande era muito linda, mas não podíamos fazer nada, tudo era perigoso.
Fui morar favela Morro do Papagaio, lá tinha tiro toda hora. Por isso era perigoso. Minha mãe não deixou eu continuar os meus estudos, dizendo que eu teria que trabalhar pra ajudar a estudar meus irmãos. Fui lavar roupa em casa de família, pois era a única coisa que sabia fazer. Muito inconformada e triste com a situação eu vivia chorando pelos cantos. Pois o meu sonho de crescer na vida tinha chegado ao fim. Queria mesmo era continuar meus estudos. Escondido de todos saia a procura de escolas, mas falavam que quem vinha da roça, não aguentava os estudos da capital, e tinha que fazer prova de seleção; a maioria não passava. Decidi que iria fazer a prova de seleção em todas as escolas públicas, e passei em todas. Mesmo assim minha mãe não deixou eu ir pra escola pois tinha que trabalhar. Quase fiquei louca. Saia de casa a pressas todos dias às cinco horas da manhã e chegar até as sete nas casas de família em que ia pra lavar roupas. Um dia o meu patrão me pegou chorando e quis saber o que estava acontecendo. Contei que as aulas já haviam começado, que eu tinha passado na prova de seleção, mas que a minha não deixou eu estudar porque tinha que trabalhar pra ajuda ela a tratar dos meus irmãos. Ele saiu sem falar nada. Fiquei mais triste ainda. Sempre fui muito de conversar com Deus.
Os dias passaram e chegou o mês de março. Para a minha surpresa, o meu patrão foi nas escolas e conversou com os diretores sobre a possibilidade de ainda poder fazer a minha matrícula. Sem me falar nada pediu pra eu dar um recado pra minha mãe, disse que queria falar com ela pessoalmente. Ela ficou brava comigo, achando que ele a chamou por algum estrago nas roupas. Lá, ele perguntou pra ela: “por que senhora proíbe a sua filha de estudar?” Ela disse: “Ela já estudou o bastante e agora tem que me ajudar nos estudos e no sustento dos irmão”. Ele ofereceu uma cesta básica com tudo pra ela durante o tempo em que eu trabalhasse lá. E ainda a passagem pra eu ir trabalhar e ir pra escola, além dos almoços e o lanche todos os dias. Ele era um Francês. Foi anjo que Deus colocou no meu caminho. Ela falou pra ele que eu não podia estudar à noite, pois na favela era muito perigoso, e ele prometeu que a gente iria dar um jeito e pesquisou os horários dos turnos, e… me perguntou que curso eu queria fazer. Como era sonho de minha mãe ter uma professora em casa,eu gostaria de estudar no Instituto de Educação, pois lá formavam professoras. Eu fiquei sem palavras para agradecê-lo.
Foi assim que eu me formar em 1981. Ele voltou pra França e nunca mais o vi. No ano seguinte consegui um trabalho na creche, onde fiquei durante quatro anos cuidando de crianças, e onde atuei como diretora por um ano. Mudei com meus pais pra outro bairro. Saímos da favela.
Sempre com o sonho de crescer,saí da creche para dar aulas, então consegui uma vaga numa escola pública na rede Estadual na favela Morro do Papagaio. Onde fiquei dois anos e até que começou a luta por uma vaga durante muitos anos,nas escolas estaduais em Belo Horizonte. Me
casei, em 1985, tive uma filha em 1987. Em 1992 passei no concurso público na cidade de Betim. Passei no vestibular para ciências sociais, no INESP – Divinópolis; me formei em 1997. Tive minha segunda filha. Em 2006 passei na graduação em Psicopedagogia. Me aposentei em setembro em 2017. E voltei aos estudos em novembro de 2017.Hoje estou cursando DESIGNER DE INTERIORES na UNICESUMAR.
Esta é a minha luta. Sou guerreira. Tenho uma filha formada em Nutrição e que me deu um lindo neto chamado Miguel. E a outra que forma nesta ano em Biomedicina e que me deu uma linda neta chamada Maria. Feliz com meu marido Marcos! Gratidão ao meu Deus por tudo!
