Senador Wilson Matos defende que o sistema ortográfico seja simplificado |
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É preciso simplificar a linguagem e a comunicação, para que
os estudantes possam ter mais tempo de se dedicar a outros conteúdos tão
importantes quanto o português no desenvolvimento de suas habilidades e
raciocínio. Esta foi a opinião emitida pelo senador Wilson Matos (PSDB-PR), ao
participar, nesta terça-feira (21), de audiência pública para debater o acordo
ortográfico da língua portuguesa, que deve entrar em vigor em janeiro de 2016.
O senador paranaense concordou com o ponto de vista expressado na audiência
pelo presidente do Centro de Estudos Linguísticos da Língua Portuguesa, Ernani
Pimentel, que apresentou uma proposta de simplificação da ortografia, elaborada
por professores que criticam a complexidade da língua. Para Wilson Matos, em um
mundo no qual a comunicação é veloz e ultrapassa fronteiras, a linguagem
precisa ser rápida, ágil e menos complexa, sem que isso signifique banalizar a
língua portuguesa.
"A língua portuguesa é bastante complexa, um extenso
conjunto de regras, que faz gastarem-se, durante o ciclo escolar básico,
milhares e milhares de horas, tendo em vista que, no ensino básico hoje, a
disciplina com maior carga horária é a Língua Portuguesa. E, assim mesmo, a
gente sabe que, quando o aluno chega à universidade brasileira, quando passa no
vestibular, 50% deles são analfabetos funcionais, não sabem interpretar um
texto. Gastamos milhares de horas para entender essas regras todas e nos
dedicamos muito menos à Matemática, à Ciência, que têm como objetivo o
desenvolvimento cognitivo, e o aluno chega lá sem o domínio dessas
proficiências. Então, acredito que temos de simplificar o máximo, o mais rápido
possível, porque a sociedade tem atropelado o nosso sistema ortográfico", disse
na audiência o senador Wilson Matos.
No debate realizado na Comissão de Educação, o professor
Ernani Pimentel defendeu a simplificação gramatical com a adoção de critério
fonético, ou seja, a escrita das palavras se daria pela forma como se fala.
Para Pimentel, esse sistema tornaria mais simples o processo de alfabetização e
atenderia à rapidez da comunicação pela internet, que submete as pessoas a
inúmeras palavras novas a cada dia. Wilson Matos reforçou os argumentos de
Pimentel ao afirmar que o excesso de regramentos na língua portuguesa aumenta a
complexidade do ensino da língua e da compreensão dos alunos. O senador, que há
muitos anos atua na área educacional em seu Estado, disse acreditar que, com a
mudança, o tempo de estudo da ortografia pelos alunos deve cair de 400 horas
para 150, abrindo possibilidade de aumento da carga de ensino de outras
disciplinas.
"Acho que é importante nas relações da sociedade uma boa
comunicação – claro, de um excelente nível, mas temos de ser práticos. Tudo
hoje exige pressa, e temos de dominar muito mais os fenômenos da natureza na
área da Ciência, da Matemática, para que realmente possamos desenvolver mais
eficientemente a nossa Nação", concluiu o senador paranaense.
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em 1990,
ainda não foi implantado em definitivo por falta de consenso sobre as novas
regras, tanto entre os integrantes da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa como dentro do próprio Brasil. Também participaram do debate na
Comissão de Educação o professor e membro da Academia Brasileira de Letras,
Evanildo Bechara, que disse que a entidade é contrária à simplificação da
língua portuguesa; Thais Nicoleti, consultora de Língua Portuguesa da Folha de
S.Paulo e do UOL, para quem as dificuldades de adaptação ao novo acordo vêm
sendo superadas; e Antônio Martins de Araújo, presidente da Academia Brasileira
de Filologia, que destacou a necessidade de maior atenção a acentos e hífens
numa nova grafia da língua portuguesa.
Debate
também no Plenário
Na sessão Plenária na tarde desta terça, o debate sobre as
mudanças nas regras ortográficas brasileiras prosseguiu, e a senadora Ana
Amélia, do PP do Rio Grande do Sul, afirmou que o tema provoca controvérsias e
que o papel da comissão é mediar a discussão, e não promover mudanças na
ortografia. Para ela, os senadores, que não são especialistas em língua
portuguesa, possuem a responsabilidade de tentar buscar um consenso entre todos
os que estão envolvidos direta e indiretamente com a área de ensino no Brasil. "Não vamos mexer uma vírgula no conteúdo do acordo, não podemos. Nós estamos
aqui fazendo uma articulação política para um entendimento que diz respeito aos
interesses da defesa nacional – porque a língua faz parte desse conceito de
nação", disse a senadora.
O senador Wilson Matos, em aparte à senadora Ana Amélia,
afirmou ter ficado satisfeito com o rumo do debate realizado na Comissão de
Educação, por entender que o caminho é a simplificação da Língua Portuguesa e a
diminuição do regramento. "Hoje são muitas regras. Os alunos, os jovens
brasileiros, os estudantes gastam milhares de horas memorizando as regras. E no
cotidiano, na prática, cada dia mais estamos simplificando a comunicação. Claro
que não podemos matar uma língua bonita, linda como a nossa, não é? Mas também
temos que descomplicar, torná-la menos complexa para a criança, o adolescente,
o jovem, enquanto estudante. Hoje, a maior carga horária de uma disciplina no
ensino fundamental está na Língua Portuguesa, é de cinco a seis horas por dia,
e Matemática, três a quatro – Ciências é de três. Portanto, temos que
simplificar para que o aprendiz possa dedicar mais tempo às ciências, que
canaliza os fenômenos da natureza, as transformações, etc., e à Matemática, que
traz um desenvolvimento cognitivo muito importante na vida do estudante", disse
o senador Wilson Matos.
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