O ato de voltar as atenções para os hábitos alimentares é algo que tem ganhado atenção nos últimos anos. De acordo com uma pesquisa realizada pela Kantar Worldpanel e publicada em março de 2019 pela Associação Brasileira de Nutrição, houve mudanças na alimentação em 27% dos lares brasileiros no ano anterior. Entre as alterações mais relatadas estão o aumento do consumo de frutas e sucos naturais, bem como a diminuição do consumo de carne vermelha, açúcar e refrigerante.
Especialistas indicam, para além de fatores estéticos, que esse deve ser o comportamento ideal: observar e selecionar o que se come e fazê-lo com a intenção de garantir a saúde.
Quem fala sobre a importância disso é a nutricionista Silvia Moro Conque Spinelli. Formada pela Universidade Federal do Paraná desde 2004, mestre em Bioética pela PUCPR e professora da UniCesumar de Curitiba, ela ressalta o potencial da alimentação de contribuir para a manutenção da saúde e como isso tem sido negligenciado na sociedade contemporânea – impactando no aumento de doenças como a obesidade.
Silvia Moro é docente dos cursos de Nutrição, Odontologia, Fisioterapia e Enfermagem (Foto: Arquivo pessoal)
SILVIA MORO: O nutricionista consegue traduzir ao paciente como ele adapta suas necessidades à rotina do dia a dia. Se, por exemplo, o médico diagnostica hipercolesterolemia, os nutricionistas explicam como essa patologia interfere em nossa saúde e como podemos tratar ou prevenir agravos. Assim: de forma preventiva ou para reduzir danos de patologias já instaladas.
Os nutricionistas têm a formação técnica para elaborar cardápios individuais ou para coletividades, como em refeitórios de empresas. Assim, podemos corrigir patologias e prevenir muitas doenças, ou simplesmente contribuir para o paciente envelhecer de forma mais sadia. Mas o processo de educação nutricional deve começar em casa. Nutricionistas contam com a família, as escolas, os restaurantes, as cantinas e, ainda, as empresas para promover uma alimentação sadia e frear a epidemia mundial de sobrepeso e obesidade. Não podemos cair no erro de que somente magros são saudáveis. Isso não é verdade! A magreza não é um objetivo estético, nem uma busca por aceitação. Em todo o ocidente os dados são alarmantes. Hoje, mais de 3 milhões de cidadãos americanos possuem mais de 250 kg. Esse dado é assustador e mostra um fenômeno crescente e perigoso. Não dá para ter saúde com tanta obesidade.
Os alimentos funcionais ganharam fama e é muito bom ver pessoas buscando nos alimentos aquilo que antes só buscavam nos medicamentos. Omega 3, linhaça, kefir e outros alimentos comprovadamente adjuvantes no tratamento de doenças encabeçam uma lista crescente. Isso é muito bom. Hipócrates já dizia em 500 a.C. "que seu alimento seja teu remédio" e a civilização demorou para entender.
É uma pena ver uma geração inteira desapegada do ato de comer. O ritual delicioso de comer se perdeu para uma rotina desgastante de informação instantânea. Uma nova corrente de pensamento, o da Nutrição Comportamental e o Mindfullness Eating, vem para tentar reconectar as pessoas às pequenas atitudes diárias hoje automatizadas. Uma iniciativa valiosa para nos devolver a consciência alimentar perdida no século XX.
Há, sem dúvida, exageros. Em muitas mães observamos neuroses em torno de não conseguir concretizar sonhos de comportamento alimentar em seus filhos. Uma autocobrança torturante. Você não consegue ofertar somente vegetais orgânicos? Polenta de fubá transgênico? Suco de caixinha é crime? Ainda observamos um outro fenômeno relativamente recente que é a vigorexia. A vigorexia ocorre quando há uma doença psicológica caracterizada por uma insatisfação constante com o corpo, que afeta principalmente os homens, levando-os à prática exaustiva de exercícios físicos e busca por dietas restritivas. Transtornos de comportamento que muitas vezes precisam de suporte emocional.