Mais de 4,5 mil pessoas são alvo de tentativas de golpes financeiros a cada hora no Brasil, segundo uma pesquisa do Datafolha divulgada na terça-feira (13). Os crimes ocorrem por meio de aplicativos de mensagens ou ligações telefônicas, nas quais normalmente os criminosos se passam por funcionários de bancos.
O Datafolha apontou ainda que os golpes financeiros representaram um prejuízo de R$ 25,5 bilhões à população em 12 meses. Esse valor é estimado em danos causados apenas pelos golpes aplicados via pix e boletos falsos. Os dados vieram de entrevistas com 2.508 pessoas em todas as regiões do país, entre os dias 11 e 17 de junho.
A pesquisa também trouxe dados que evidenciam o alto índice de subnoficação dos crimes cibernéticos. Apenas 30% dos entrevistados que admitiram ter sido vítimas de golpes financeiros digitais registraram ocorrência em delegacias.
Felipe de Melo, advogado, especialista em Direito Civil e professor do curso de Gestão de Segurança Privada da UniCesumar, explica o porquê de muitas das vítimas desse tipo de crime não registrarem Boletim de Ocorrência (B.O). “Muitas vítimas de golpes financeiros não denunciam o crime por vergonha ou medo de serem julgadas por sua vulnerabilidade. Existe um estigma associado a ser enganado, e as vítimas muitas vezes se culpam por não terem sido mais cautelosas. Além disso, algumas pessoas acreditam que o esforço para denunciar o crime será em vão, pois acham que as chances de recuperação do dinheiro são mínimas ou que o sistema judicial será lento ou ineficaz”, pontua.
O especialista ressalta que o aumento de golpes financeiros no Brasil pode ser atribuído a ampla adoção de tecnologias digitais, a vulnerabilidade econômica da população e a sofisticação crescente das táticas dos golpistas. “Muitas pessoas passaram a utilizar serviços bancários e financeiros on-line, especialmente durante a pandemia, sem a devida preparação ou conhecimento sobre os riscos envolvidos. Além disso, a crise econômica e o desemprego tornam as pessoas mais suscetíveis a promessas de ganhos rápidos ou soluções financeiras milagrosas, o que as torna alvos mais fáceis para os criminosos”, explica Melo.
Impacto na economia
Melo explica como a perda de R$ 25,5 bilhões em golpes financeiros tem um impacto significativo na economia brasileira. “Esse valor representa não apenas a perda direta de recursos financeiros, mas também uma diminuição na confiança do consumidor em transações on-line e no sistema bancário como um todo. Isso pode levar a uma redução no uso de serviços digitais e um aumento na precaução, o que, paradoxalmente, pode retardar a inovação e a adoção de novas tecnologias financeiras. Além disso, o impacto social e psicológico nas vítimas é significativo, frequentemente resultando em queda de produtividade e aumento da demanda por serviços de suporte social. Outro aspecto preocupante é que, na tentativa de recuperar as perdas, muitas vítimas acabam caindo em superendividamento, agravando ainda mais a situação e perpetuando o ciclo de vulnerabilidade financeira”, ressalta.
Como os golpes funcionam?
Na prática, esses golpes financeiros geralmente envolvem a engenharia social, nos quais os golpistas manipulam as vítimas para que forneçam informações sensíveis, como senhas, dados bancários ou códigos de verificação. Em aplicativos de mensagens, os criminosos podem se passar por conhecidos ou por instituições confiáveis, enviando links falsos ou solicitando transferências de dinheiro. Nas ligações telefônicas, os golpistas frequentemente alegam ser representantes de bancos ou empresas, pedindo que a vítima realize procedimentos urgentes ou confirmem dados pessoais, usando a urgência e o medo como ferramentas de persuasão.
Como se proteger de golpes financeiros?
Melo conclui e oferece dicas à população de como se proteger desse tipo de crime. “A melhor defesa contra os golpes financeiros é a informação e a prudência. As pessoas devem evitar compartilhar dados pessoais ou bancários por telefone ou mensagens, especialmente em situações não solicitadas. É importante desconfiar de pedidos urgentes e sempre verificar a autenticidade da comunicação diretamente com a instituição supostamente envolvida, utilizando canais oficiais. Além disso, o uso de autenticação em duas etapas, o monitoramento regular de extratos bancários e o cuidado com links suspeitos podem ajudar a evitar ser vítima de golpes. Em caso de desconfiança, recomendo procurar algum advogado ou pessoa de confiança para auxiliar no caso”.