Quais são os desafios e as oportunidades da EAD? Quem opina é o professor João Mattar, que é bacharel em Filosofia pela PUC-SP e em Letras pela USP, doutor em Letras pela USP e pós-doutor pela Stanford University. Autor de artigos e livros, entre eles "ABC da EaD: a educação a distância hoje" e "Second Life e Web 2.0 na Educação: o potencial revolucionário das novas tecnologias", Mattar tem experiência de sobra para discutir o assunto. Ele é professor e pesquisador no Programa de Pós-Graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital (PUC-SP). Confira a entrevista de João Mattar, concedida durante a visita dele à Unicesumar para ministrar uma disciplina da nova pós-graduação em Educação a Distância:
Quais são os maiores desafios da educação a distância? E quais são as tendências tecnológicas nesta modalidade de educação?
Há vários modelos de educação a distância e isso tem seu lado positivo. O que acho mais importante é mostrarmos alternativas para um modelo comercial. É necessário trabalhar modelos mais interativos, onde as instituições invistam mais no design das interações e no acompanhamento dos professores e alunos. Às vezes são modelos mais caros, mas também viáveis. É muito ruim caminharmos para um futuro só pensando no PDF múltipla escolha. A tecnologia traz novidades, ferramentas, tendências de uso de dispositivos móveis, videogames, vídeos com opções interativas e realidade aumentada (onde os alunos podem simular virtualmente um laboratório de física, por exemplo). Tudo isso deve ser incorporado na criação de modelos interessantes. Outro desafio que temos é a formação de professores. O professor presencial não é automaticamente bom na modalidade a distância para produzir conteúdo e ser o tutor. É preciso dar continuidade ao processo de formação destes professores e também de toda a equipe: designers, produtores de vídeo e parte gráfica pensando num novo tipo de educação.
Está surgindo um novo perfil de aluno EAD? A faixa etária tem diminuído...
Sim. Quem procurava a EAD inicialmente era o aluno que não poderia estudar presencialmente porque morava em locais onde não tinha universidade, porque viajava muito e não poderia se comprometer a ir às aulas ou porque trabalhava até tarde. Mas conforme a EAD foi sendo inserida, os alunos passaram a ser mais novos. O momento da aula presencial é legal, mas ter muita aula é cansativo. O futuro será o que chamamos de semipresencial ou híbrido, onde há encontros presenciais durante a semana ou final de semana e atividades a distância.
Como as instituições podem usar o Facebook de maneira pedagógica?
Há várias opções e uma das mais utilizadas é usar grupos de discussão, que são similares aos fóruns de ambientes de aprendizagem. Pode-se fazer download de arquivos, propor tópicos de discussão, páginas abertas para um grupo, criar eventos. O Facebook pode ser um complemento para a aprendizagem.
O MEC fechou faculdades recentemente. Houve falhas no critério de avaliação destas faculdades?
O MEC tem seus critérios e a comunidade acadêmica reconhece que os mecanismos de avaliação estão melhorando. No caso destas faculdades que foram fechadas, houve várias avaliações negativas e o MEC descredenciou. Na educação a distância os critérios precisam ser ainda mais rígidos. Se não houver um controle, a oferta de cursos sem qualidade vai ser muito grande.
Está havendo fusões de grandes instituições de ensino. Isso tem reflexo na qualidade da educação?
Acredito que sim. O MEC deveria ser mais rígido em relação a isso. Em geral tem havido fusões com grupos internacionais e há uma padronização de conteúdo, o que é bom para as instituições, mas não é para o país. Além disso, essas instituições normalmente são governadas por grupos econômicos que têm interesse puramente financeiro, e não têm interesse educacional. É muito importante que a gente preserve instituições como a Unicesumar. É um terror imaginar que o conteúdo será feito por uma só instituição para todo mundo. É importante preservar a diversidade.