Devido aos últimos acontecimentos e observando o atual funcionamento das Ligas Acadêmicas de Medicina da UniCesumar, o Centro Acadêmico Miguel Nicolelis se dispôs a escrever um pouco sobre o assunto, de modo a enriquecermos nossa visão sobre o significado das mesmas, bem como sobre sua importância no nosso processo de formação, seja como médicos ou seres humanos.
Historicamente, as Ligas tiveram sua origem no começo do século passado, frente à necessidade de combater os agravos à saúde, de modo a emergirem com uma natureza filantrópica/caritativa. Mais tarde, na época da ditadura, novas ligas foram criadas diante deste contexto de tensão político-social e do questionamento sobre o tipo educação médica em voga.
O boom de ligas, portanto, surgiu acompanhando a urbanização e o crescimento de escolas médicas pelo Brasil. Mesmo que com um caráter extracurricular e complementar, percebeu-se que elas se estabeleceram de modo a estimular a formação uniprofissional, aprofundando o conhecimento em uma determinada área em detrimento da inicial essência em que foram criadas.
Uma Liga acadêmica, por definição, pela Ablam, é: “uma associação civil e científica livre, com duração indeterminada, sem fins lucrativos, com sede e foro na cidade da instituição de ensino. Para o mesmo ela pode estender-se a alunos de outros cursos, já que tem a finalidade de aprofundar e complementar a formação acadêmica em uma área específica”.
Assim, as atividades das ligas acadêmicas se embasam no tripé: ensino, pesquisa e extensão. Por meio disso, criam-se oportunidades de trabalhos científicos, didáticos, culturais e sociais, não apenas nos espaços acadêmicos, mas também em meio à sociedade.
Destaca-se, portanto, a importância da interação com esta para que, de fato, a liga seja considerada um projeto de extensão. Dessa maneira, o conhecimento de determinada área aprofundado proporcionaria um melhor embasamento teórico para que houvesse atividades práticas realizadas mais asseguradamente, bem como contribuísse para a formação de médicos generalistas.
Entretanto, como em artigo publicado pela Revista Brasileira de Educação Médica, referenciado ao final desta coluna de opinião, o intuito em que as ligas acadêmicas estão sendo criadas, marcado em seus estatutos, vem se limitando à estruturação de práticas em uma única área do saber, tendenciando, mais uma vez à reprodução de um modelo de atenção tecnicista e individualista.
Em pleno 2018, passados quatro anos da publicação das últimas Diretrizes Curriculares Nacionais, não estaríamos nós realizando uma afronte ao Projeto Pedagógico de nosso curso, negando nossa realidade em saúde, e desrespeitando a visão de um ser humano biopsicossocial?
Não nos colocamos contrários ao aprofundamento em determinada área de saber, inclusive, achamos isso extremamente importante e saudável. No entanto, essa linha é muito tênue. Por isso que estamos tentando mostrar a vocês com que origem as ligas surgiram, de modo a propor que voltemos a ela.
Uma Liga acadêmica traz a oportunidade de favorecer o contato precoce entre acadêmicos, professores e trabalhadores de diferentes áreas. Com o envolvimento dos alunos na comunidade, desenvolve-se autonomia, trabalho em equipe e disseminação de conhecimento.
Desta maneira, estamos propondo que busquem ainda mais parcerias entre si, não apenas no sentido de trabalho conjunto, mas pela própria indissociabilidade de pesquisa, ensino e extensão.
Teremos, após os seis anos de graduação, tempo para vivenciar as diferentes residências e suas especialidades. Estamos fazendo este texto justamente para que não fiquem demasiadamente, agora, afoitos, por algo que ainda está por vir, que é, na verdade, “a próxima fase”. Vamos viver o hoje, um dia de cada vez, buscando o melhor para que nos cercam e disseminando todo o conhecimento que até então foi sedimentado.
Pelo bem de nossa saúde mental e pela saúde da comunidade, vamos nos engajar a usar o conhecimento de modo menos flexneriano, de maneira mais humanizada, fortalecendo e implementando a promoção à saúde.