Segundo dados da Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa (Unece), 85% de todos os têxteis vão para o lixo anualmente. Só no Brasil, de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), são produzidas 170 toneladas de resíduos têxteis por ano e, desse total, 80% são destinados a lixões e aterros sanitários. Em todo o mundo, anualmente, cerca de 500 bilhões de dólares são jogados fora em roupas com pouco uso e que, muitas vezes, não são recicladas.
Hugo Silva Ito, professor do curso de Moda da UniCesumar de Maringá (PR), afirma que parte desses impactos ambientais foram incentivados pela moda rápida (fast fashion), que possui uma produção em massa alimentada pela alta demanda do público por roupas novas. “O fast fashion busca acompanhar as principais tendências da moda, que podem fluir rapidamente. Lançam novas coleções e roupas que se aproximam do que está mais em alta no momento. Essa alta produção exige enormes quantidades de água, energia e recursos não renováveis para se concretizar. Não à toa que a indústria de moda está somente atrás da agricultura no pódio de utilização de água”, explica.
Como uma das possíveis soluções para esse cenário, o professor aposta na moda sustentável que, segundo ele se preocupa com a estética das peças e com toda a cadeia produtiva delas. “O movimento pensa nos materiais utilizados e a durabilidade do produto. Como benefício, contribui para a redução de descartes têxteis e mitiga os impactos ambientais”, pontua. Ito ainda menciona que, em moda sustentável, existe a categoria “upcycling”, termo em inglês que significa trabalhar com peças e materiais que já estão disponíveis e transformá-los em novos artigos, sem produzir mais lixo ou contribuir com a poluição.
Barreiras para adesão de práticas sustentáveis na moda
Ito explica que, apesar da moda sustentável ser necessária e benéfica ao planeta, as grandes empresas enfrentam alguns desafios na adesão dessa prática. “Os materiais e meios sustentáveis de produção são, muitas vezes, mais caros que os convencionais, e, por conta do lucro, algumas empresas preferem continuar no sistema tradicional de fabricação. Além disso, exige todo um reposicionamento de marca enfatizando essa transição”.
“Por sorte, a pauta de sustentabilidade está cada vez mais em alta, e é nítido que boa parte das empresas estão se preocupando com isso e mostrando que estão fazendo diferente. A geração de hoje valoriza o cuidado com o meio ambiente e estão sempre de olho nos valores e ações das companhias”, detalha Ito.