Esteve no Cesumar nesta quarta-feira para fazer palestra aos diretores e coordenadores de cursos da instituição, Ryon Braga, considerado um dos melhores consultores em educação superior no Brasil. Aproveitando a presença, Braga analisou este cenário em entrevista concedida após a palestra. Ele destacou a inclusão das classes C e D nas universidades, o esforço que o governo e as instituições têm feito para melhorar a qualidade do ensino e, também, abordou a questão do FIES (Financiamento Estudantil), bastante viável hoje para os estudantes, segundo disse.
Qual o cenário da educação superior hoje no Brasil?
A educação superior no Brasil passou por uma fase de grande crescimento na última década, devido à flexibilização para que instituições privadas entrassem no mercado e atendessem a uma demanda que havia por vagas nas universidades. Na década de 1990, a educação superior só chegava aos jovens das classes A, B e poucos da classe C. Após o final dessa década, o setor privado ocupou um espaço significativo, aumentando de 1,8 milhão para 6,4 milhões de alunos no ensino superior. No começo havia uma preocupação grande em abrir vagas, mas atualmente a caminhada tem sido para aperfeiçoar a qualidade.
O que tem sido feito pelas universidades para melhorar a qualidade do ensino superior?
Há dois movimentos: um do governo e um das universidades. Do governo, ele tenta aprimorar seus instrumentos de avaliação e tem agido fortemente para punir as instituições mal avaliadas. Historicamente, ele nunca fez isso e agora está punindo, com redução de vagas, com impedimento de abertura de novos processos seletivos e até fechamento de cursos e instituições. As instituições, por sua vez, estão buscando a melhoria, tanto pela pressão do governo como por interesse próprio para aumentar seu prestígio. Nesse esforço, as instituições incentivam seus professores a fazer mestrado e doutorado. Mas só isso não é suficiente. Elas [as instituições] também estão se empenhando em criar centros de formação para qualificar esse professor para o ensino em sala de aula. Paralelamente, têm investido em tecnologia como importante meio de facilitação do processo de ensino e aprendizagem. O uso crescente da tecnologia como atividade meio e o professor como atividade vital são dois instrumentos que as instituições utilizam para o aprimoramento da qualidade.
Depois de atender uma demanda reprimida das C e D, as universidades particulares passaram por um período de estagnação, já que grande parte da população não tem como bancar os estudos. Como está esta situação agora?
A situação começou a mudar do ano passado para cá, quando o governo ampliou a oferta de crédito para o financiamento estudantil, baixou os juros e facilitou o acesso, além do Prouni que já vinha ajudando. O FIES (Financiamento Estudantil) tornou-se uma opção viável para o aluno e, assim, devagar, o ensino superior está crescendo.
Ainda assim, a taxa de inclusão de jovens no ensino superior brasileiro é baixa. Há uma tendência de crescimento?
A taxa de escolaridade hoje está em 16% , mas ainda é uma das mais baixas do mundo. Nós temos dois problemas: primeiro, a renda da população brasileira ainda é baixa e segundo, o FIES melhorou, mas não resolve. Hoje o Fies tem financiado uma parcela menor de 10% dos estudantes, enquanto em outros países, o financiamento público aos estudantes passa de 40%. Para o nosso país chegar lá não depende só do governo liberar mais recursos, mas sim da mudança de cultura. Por incrível que pareça, o Brasil é um país que as pessoas não se intimidam em pegar empréstimo para comprar casa, carro, eletrodomésticos, mas acham que não devem tomar empréstimo para estudar, diferente de outros países da América Latina, onde a prioridade é estudar. Talvez não por valorizar mais as outras coisas, mas por achar que alguém deve dar de graça esse estudo para ele. A tomada de recursos do FIES não cresceu ainda por esse problema. O governo está fazendo a sua parte.
A educação a distância vem tendo um grande crescimento. Essa tendência deve continuar? Até quando?
A educação à distância tem valor médio de mensalidade mais baixo e um mercado potencial maior que o presencial atualmente. Existe uma demanda de 2,4 milhões de alunos para a EAD. Só não está chegando mais rapidamente a essa cifra porque o MEC (Ministério da Educação) limitou a abertura de polos. Quando flexibilizar essa abertura, o que promete para início de 2013, chegaremos rápido a essa cifra, em três anos.
Quais as tendências para a educação presencial?
Em pouco tempo as duas modalidades (presencial e à distância) não competirão mais. Nós teremos uma nova legislação, não mais para o ensino presencial e a distância como é hoje, mas uma regulação única para o ensino. Todo ensino terá um componente presencial e um mediado por tecnologia. Será um híbrido, não haverá mais ensino presencial e a distância. Esta é uma tendência mundial.