Médico vê problemas na sociedade com terceirização da criação de filhos


O médico pediatra José Martins Filho, ex-reitor da Unicamp, esteve nesta quarta-feira (30) no 2º Congresso Interdisciplinar de Saúde do Cesumar e falou sobre a “Questão Social e a Criança”. Para o médico, um dos grandes problemas atuais, responsável inclusive pelo crescimento da violência no mundo, tem sido a “terceirização na criação dos filhos” e a falta de relações afetivas nas famílias.


A “criança terceirizada”, de acordo com o médico, é aquela cuidada por outras pessoas que não os pais. “Nas classes menos privilegiadas é a mãe que sai correndo atrás da sobrevivência e é obrigada a deixar essa criança com um filho menor, na classe média, a mãe que trabalha o dia inteiro e tem que deixar com uma babá e na classe rica, as pessoas que deixam seus filhos precocemente com outras pessoas para educar, desaparecendo na sociedade moderna a relação mãe-filho, pai-filho, avós-netos”.


Para o especialista, o problema da violência não é só econômico. “As pessoas não percebem que muita gente pobre que sofre, que ganha mal, que é marginalizada, não é violenta. Trabalham, ajudam as pessoas, têm afeto e amor. Na minha opinião, a gente precisa começar a dar valor às relações afetivas, mesmo nas classes sociais diferentes, porque nas classes ricas também tem gente violenta, gente que comete assassinato”.


O médico, livre docente da Unicamp, ex-consultor do Ministério da Saúde e do Unicef, vê esse problema como resultado de uma sociedade consumista, que exige tanto das pessoas, a ponto de não terem tempo para os filhos.


“A terceirização é um tipo de abandono”, diz ele. “Eu sei que as pessoas precisam sobreviver, sendo obrigadas a deixar seus filhos com outras pessoas que nem sempre estão preparadas para cuidar. Mas também já vi mães que para não perder espaço profissional pagam para trabalhar”.


“Na situação em que vivemos hoje é preciso tomar uma decisão. É melhor não ter  filhos, do que tê-los para não cuidá-los. Se temos filhos, precisamos nos dedicar, é nossa responsabilidade”, continuou.


Conforme o pediatra, esse abandono impede vínculo afetivo que mais tarde vai ser cobrado. “Eu acho que uma criança bem amamentada, uma mãe carinhosa, afetiva, uma família equilibrada, com as pessoas se amando e dando orientação e afeto, ensinando princípios éticos e respeito ao ser humano, com religiosidade ou não (depende de cada família, mas é importante), previne muitos problemas futuros na sociedade”.


O palestrante lembra que hoje os psicanalistas, psiquiatras e psicólogos começam a achar que essa barbárie que estamos presenciando na sociedade tem a ver um pouco com esse afastamento familiar.


“Acho que nós estamos começando a ver nesse começo do século XXI as conseqüências do século passado, em que as pessoas largaram seus filhos. Em sociedades desenvolvidas a mulher trabalha menos horas por dia, tem longa licença maternidade, pode cuidar melhor de seus filhos. Isso é uma sociedade justa. Não vejo como vantagem, no Brasil, a mulher ter de pagar um preço tão alto para se realizar profissionalmente a ponto de ter de lagar o seu filho. A mulher vive estrassada e não conheço nenhuma que não sinta uma ponta de culpa quando o filho está doente, por exemplo, e ela tem de ir trabalhar”, concluiu.

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