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Missão Unicesumar no Haiti: Dia 2 - Propósito

Por Lissânder D. do Amaral

Porto Príncipe (Haiti), 5 de agosto de 2019 - Dia 2

Começa o segundo dia (05/08) em Porto Príncipe. Estamos ansiosos para conhecer o projeto que transformou um casarão em um centro de atendimento a pessoas vítimas do câncer. O médico brasileiro Felipe vem a cada três ou quatro meses ao Haiti para atender pessoas e fazer cirurgias, graças a esse projeto.

Mas antes do relato, precisamos acordar, né? O sol já invade as frestas dos quartos e nos lembra que estamos no Haiti. E isso significa calor, calor e calor. Dificilmente alguém quer permanecer na cama quando a temperatura é mais de 35 graus. O café está pronto e a primeira refeição é muito bem-vinda. Comemos juntos em duas grandes mesas redondas na garagem da casa. Em seguida, o nosso líder Weslley nos conduz a uma reflexão pessoal sobre o propósito da vida. Todos participam em grupo e individualmente. “Nada é por acaso. Tudo tem um plano, um sentido”, comentam.

Ficamos felizes com algumas pequenas conquistas. Não obstante o racionamento da eletricidade, a Ana Lúcia possui um gerador. Ela não costuma utilizá-lo diariamente devido ao alto custo do combustível, mas a UniCesumar decidiu custear a gasolina para que o gerador funcionasse em mais algumas horas do dia. Essa vitória facilita bastante, principalmente, a conservação dos alimentos e a possibilidade de termos água gelada. Aliás, que falta faz um copo de bebida gelada!

Visita ao IHI

As duas vans que nos conduzirão ao IHI (Innovating Health International) já nos espera. Todos de jalecos e devidamente equipados para a visita. Tudo pronto, seguimos nos carros.

O que, à primeira vista, chamamos de hospital, é, na verdade, um fantástico projeto social, liderado pelo jovem médico Vincent DeGennaro Jr, professor da Florida International University. O IHI atende centenas de pacientes para exames gerais, atendimentos específicos e até cirurgias relacionadas ao câncer. Sempre há médicos voluntários vindos para cá de vários países, dispostos a atenuar o sofrimento humano. Ao entrarmos na sala de espera, já vemos que o dia será cheio para quem trabalha por aqui. As cadeiras da sala de espera estão todas ocupadas. Até por essa razão, resolvermos permanecer no estacionamento, aguardando as orientações da nossa liderança.

Somos convidados a subir por uma escada à esquerda da entrada principal e depois entrarmos em uma sala à direita. A sala dá acesso a duas portas; a da direita ao escritório do Dr. Vincent e a da esquerda a uma sala de cirurgias recém-inaugurada. Somos recebidos por Dr. Vincent (que só fala inglês). Ele reúne todos na sala maior, enquanto começa a falar e a responder perguntas da equipe. A porta de acesso ao centro cirúrgico está fechada, mas em poucos minutos surge o Dr. Felipe, médico brasileiro voluntário do IHI, e a enfermeira chilena, Camila. Eles estavam realizando uma mastectomia de uma senhora vítima do câncer de mama. Dr. Felipe saúda e começa a falar sobre a realidade do Haiti na área de saúde. O cenário é triste, já que, sem equipamentos necessários, os casos mais complexos somente recebem tratamento paliativo. Segundo ele, não há como fazer, por exemplo, tratamento de radioterapia porque não há em nenhum lugar do país um equipamento próprio para tal.

Após uma exposição, ao mesmo tempo, inspiradora e realista, o Dr. Felipe cita a famosa frase de Hipócrates (470-360 a.C.): “Curar quando possível, aliviar quando necessário, consolar sempre”. Aprendemos que a Medicina tem um propósito muito maior do que a cura; não se trata de apenas de fazer exames e distribuir medicamentos. É o encontro entre o médico e o paciente que faz a diferença: o toque, o cuidado, a orientação, o olhar, o sorriso, a alegria, a confiança.

Nos despedimos do IHI com um senso de propósito renovado. É possível utilizar a Medicina para ajudar as pessoas, principalmente, aquelas que não possuem recursos financeiros e que necessitam de cuidados imediatos. Não é utopia.

Visita ao orfanato do André

Voltamos para a casa da Ana Lúcia, almoçamos, descansamos e nos preparamos para a segunda visita do dia: o orfanato do André. O lanche já estava pronto, os equipamentos médicos verificados e o material para os exames oftalmológicos guardados na mala. É hora de seguir.

O orfanato do André está localizado em um beco muito estreito; nossos motoristas tiveram dificuldade para chegar lá. Mas chegamos, e antes mesmo de sairmos dos veículos, as crianças foram ao nosso encontro e nos abraçaram alegremente. Todos nós também nos alegramos com tamanha recepção. Entramos e o que vimos não era um orfanato, como vocês podem imaginar. Não havia uma estrutura mínima para cuidar de cerca de 30 crianças presentes. Vimos um pátio aberto, onde posteriormente faríamos os atendimentos médicos. No lado esquerdo, encontramos o quarto das crianças, que consiste em algumas camas sujas com colchões em pedaços em um recinto escuro. No canto, um sofá velho e inutilizado. Uma das crianças faz questão de deitar-se em uma cama para que tirássemos fotos. No lado direito do orfanato, vimos um salão mais largo e circular. Lá, algumas mulheres limpavam uns peixes e temperavam carnes. Pensávamos que seria a refeição para as crianças (elas só comem uma vez por dia), mas não foi o que aconteceu. Uma hora depois, as crianças comeram no pátio uma mistura de feijão com arroz e um pouco de carne desfiada, talvez frango. Cada criança recebeu uma grande quantidade de comida, e, invariavelmente, consumiu tudo.

Foi nesse salão circular (que é um templo vodu também, religião mais popular do país) que o oftalmologia Alessandro,  com a ajuda do Pedro e da estudante Giovanna Josepetti, atendeu aos adultos. Antes dos atendimentos, no entanto, o ator e palhaço Hudson Zanoni, com seu personagem Adalberto Pé-de-chinelo, fez uma apresentação bem-humorada e interativa, arrancando risos das crianças.

O atendimento médico foi organizado e, em equipes coordenadas pela médica Graciele, todas as crianças foram atendidas e medicadas. Felizmente, não encontramos nenhum caso grave, mas todas precisavam de cuidados médicos básicos. As crianças também estavam com muita sede, e quando receberam copos cheios de suco, rapidamente beberam e pediram mais. Além do suco, servimos pães para todos. Hoje, pelo menos, foram duas refeições.

Voltamos para casa, esgotados. Talvez nem tanto fisica, mas psicologicamente, sim. Ver tantas crianças adoráveis, sem uma assistência mínima, é de cortar o coração. Ao mesmo tempo, ser beneficiado pela alegria e carinho delas, sem nunca ter nos visto antes, surpreende qualquer pessoa.

Ao final do dia, após o lanche da noite, nos sentamos, juntos, para refletir sobre a experiência do dia. Novamente, voltamos ao tema do propósito. De alguma forma, o que fizemos hoje trouxe luz aos cantos não tão iluminados de nossos corações. Sentimos que a vida é muito mais do que já recebemos em nossas casas. Somos chamados a viver por propósitos. Isso é algo maior do que uma mera relação utilitária. Tem a ver com doar-se ao próximo com o que temos de melhor. Os estudantes de Medicina da UniCesumar estão experimentando isso aqui, e estão gostando.

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