Texto feito pelo doutor Lucas César Frediani Sant’ana, professor do curso de Licenciatura em Geografia, sobre o acidente ocorrido em Brumadinho/MG no dia 25 de janeiro de 2019. 

Sabe o seu smartphone? Ou então este tablet ou o PC por onde você está acessando o blog da Unicesumar e lendo esta publicação? Pois bem, esses apetrechos tecnológicos não existiriam se a humanidade deixasse de lado o uso dos minerais. Tente fazer um exercício mental, imaginando como seria a nossa vida sem o uso dos minérios extraídos da natureza. Com certeza muitas coisas que utilizamos em nosso dia sequer existiriam. Sem medo do exagero, pode-se afirmar que o desenvolvimento e o nível tecnológico da sociedade atual estão diretamente relacionados à nossa capacidade de extrair e processar os minerais.

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de minérios. Segundo dados do último anuário do Instituto Brasileiro de Mineração – IBRAM, no ano de 2017, o Brasil exportou um volume de 403 milhões de toneladas de bens minerais, gerando divisas de quase 30 bilhões de dólares. Ainda segundo o mesmo documento, os principais produtos exportados são ferronióbio, ouro, cobre, bauxita, manganês e ferro, mineral este explorado na mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG). Porém, a elevada produção tem um custo. Vimos um reflexo desse custo em novembro de 2015, com o rompimento da barragem de rejeitos do Fundão, no distrito de Bento Rodrigues, Município de Mariana (MG). Recentemente, no dia 25 de janeiro de 2019, presenciamos o rompimento de mais uma barragem, novamente em Minas Gerais, na cidade de Brumadinho, com quase 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos despejados ao longo do vale do rio Parauapebas. A falta de responsabilidade, mais uma vez, foi de uma das maiores empresas de mineração do mundo.

Na atividade mineradora, nem todo material geológico extraído é economicamente aproveitável – em um primeiro momento. É o chamado “mineral de ganga”. Há, ainda, no processo de desmonte e separação dos minerais, a aplicação de produtos químicos. Tanto os produtos químicos quanto todos os outros minerais rejeitados da mineração são passivos ambientais que, em outros tempos, eram lançados diretamente nos corpos hídricos. Com a criação e fortalecimento dos órgãos ambientais, principalmente com a criação do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) pela Política Nacional do Meio Ambiente (PNAMA) em 1981, e com todas as leis, resoluções e decretos ambientais, passa-se a normatizar a contenção e descarte desse rejeito.

Um dos métodos mais utilizados pelas mineradoras brasileiras é o chamado “alteamento de barragem de rejeito para montante”, técnica economicamente interessante para essas corporações pelo seu relativo baixo custo, porém, é também o que apresenta maior risco.

Atualmente, há 800 barragens de rejeitos de mineração no Brasil aproximadamente. Quase metade dessas estruturas localiza-se no estado de Minas Gerais, onde ocorreram os dois maiores acidentes envolvendo esse tipo de acomodação de rejeito.

Como resultado do acidente de Brumadinho, foram 110 mortos e 238 desaparecidos* contabilizados até então. Não há dados concretos ainda acerca dos danos ambientais, porém, já é de se imaginar que seja muito parecido com os danos observados em Mariana/MG em 2015. Chegamos agora em um ponto importante: este tipo de acidente poderia ter sido evitado?

De pronto, a resposta é: Sim. E a geografia contribuiu muito para essa resposta.

A geografia é a ciência que estuda o espaço produzido a partir da relação entre a sociedade e o meio ambiente – elementos naturais, ou seja, o escopo dos estudos geográficos é o espaço transformado. Assim, há que se considerar a sobreposição de espaços. Há em um mesmo espaço econômico, como no caso das áreas de extração de minerais, a coexistência do espaço biológico – ou ecológico – e do espaço social. Por isso, é também muito importante nos estudos geográficos, uma abordagem sistêmica e holística do meio, onde é possível perceber o “todo” e a interação existente entre esse todo. Tudo isso deve resultar em documentos que direcionem o planejamento ambiental, a partir das leis e normativas existentes – como, por exemplo, para a construção e monitoramento de barragens de rejeito. A displicência de gestores que atuam em atividades dentro do espaço econômico para com os demais espaços é o primeiro passo para que cenas como vimos em Mariana e Brumadinho voltem a se repetir em um futuro próximo.

Nossos sentimentos a todos nossos alunos do polo de Brumadinho que, direta e indiretamente, foram afetados por este acidente.

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Fontes consultadas:
IBRAM. Relatório anual de atividades – julho de 2017 a julho de 2018. Instituto Brasileiro de Mineração: Brasília/DF, 2018.
ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Ecogeografia do Brasil: subsídios para planejamento ambiental. [S.l: s.n.], 2006.
SANTOS, Rozely Ferreira dos. Planejamento ambiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina de textos, 2004.
Época Negócios – Os tristes números da tragédia de Brumadinho. https://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2019/01/os-tristes-numeros-da-tragedia-de-brumadinho.html
Portal Terra. Sobre para 99 o número de mortos em tragédia em Brumadinho. https://www.terra.com.br/noticias/brasil/cidades/sobe-para-99-o-numero-de-mortos-em-tragedia-em-brumadinho,e3636a1cbabb9344b43feaf32c0603e13sqbsk6m.html
Portal UOL. Tragédia em Brumadinho: outros seis projetos pediram o licenciamento rápido como o da mina do córrego Feijão. https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2019/01/30/tragedia-em-brumadinho-outros-seis-projetos-de-mineracao-em-mg-pediram-o-licenciamento-rapido-como-da-mina-corrego-do-feijao.htm
GeoHydroTech Engenharia. https://ghtengenharia.com.br/pt/blog/sabe-o-numero-de-barragens-de-rejeito-no-brasil

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